No dia 21 de Agosto às 19 horas, aconteceu o encontro Rosa Choque com  Elisa Weidle Araújo – Farmacêutica e Bioquímica formada pela UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Leia a seguir o posicionamento:

Quem nunca teve um problema de saúde e não teve paciência de procurar um médico para resolvê-lo? Lidar com essa situação consumindo medicamentos por conta própria é o que define a automedicação. Na prática, ela é uma das maneiras que utilizamos para evitar passar dias esperando por consultas médicas, tempos de espera em postos ou pronto atendimentos, quando achamos que já sabemos como resolver a situação. No entanto, a automedicação não deve se tornar algo banal,deve ser algo esporádico.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o conceito de automedicação “é a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, para o tratamento de doenças cujos sintomas são percebidos pelo usuário, sem a avaliação prévia de um profissional de saúde. A automedicação diz respeito, portanto, ao uso de medicamentos sem prescrição de um profissional habilitado.”

De um ponto de vista da vida cotidiana, a automedicação não deixa de ser uma forma de autocuidado. Esse hábito desenvolve-se a partir do contato com diversas premissas a respeito dos medicamentos que conhecemos através das nossas relações sociais, propagandas e internet. Você sabe, aquela dica da sua mãe, tia, amigo ou vizinho. De certa forma, a automedicação é muito conveniente no que diz respeito ao uso de medicamentos de venda livre, chás, fitoterápicos, porém, deve ser feita de maneira correta e segura.

Os problemas na verdade surgem quando a automedicação impede ou atrasa o acesso ao diagnóstico e terapias corretas caso os sintomas sejam causados por um problema mais sério. Por isso, é de extrema importância que os medicamentos sejam utilizados de forma racional.

No Brasil, dados recentes revelam que, cerca de 76,4% da população pratica cotidianamente a automedicação, principalmente a partir de indicação de familiares e amigos, mas também a partir de informações encontradas na internet e em anúncios publicitários.

Hoje em dia, com o acesso facilitado à internet, o paciente obtém inúmeras informações que devem ser utilizadas com cautela.

Em países como o Brasil, em que a população se encontra em níveis sociais e educacionais muito distantes, a prática da automedicação pode ser perigosa, já que faltam conhecimentos sobre as indicações de uso, o armazenamento e a forma correta de utilizar os medicamentos.

Um dos perigos da automedicação é a prática comum de aumentar a dose do fármaco por conta própria, ou misturar diversos medicamentos com a intenção de aumentar seus efeitos. É a partir de hábitos como esses que surgem os problemas mais conhecidos e notórios da automedicação, a intoxicação.

Seguem algumas das possíveis consequências da automedicação:

– O uso de doses inadequadas pode resultar tanto em ineficácia quanto em overdose de fármacos, essa última representando grave risco à saúde;

– Muitas vezes a automedicação pode mascarar sintomas de condições mais sérias que necessitam do diagnóstico correto para serem tratadas adequadamente;

– O uso concomitante de mais de um fármaco pode resultar em interações medicamentosas e, portanto, deve sempre ser orientado por um profissional capacitado; que também falaremos mais logo adiante.

Os medicamentos mais utilizados pela população brasileira  são: anticoncepcionais, analgésicos, descongestionantes nasais, antigripais, antiinflamatórios e alguns antibióticos. Para os especialistas, a população precisa atentar para o uso desses medicamentos.

A utilização inadequada de antiinflamatórios pode levar à falência renal e causar hemorragias gastrointestinais e irritações gástricas.

Os antibióticos podem causar resistência do organismo a substâncias que tratam infecções ou doenças que precisam de medicamentos nesta linha, o que aumenta o risco de ineficácia do tratamento em infecções futuras.

Anticoncepcionais não devem ser usados por conta própria, pois podem causar desequilíbrio hormonal, riscos de trombose e comprometimento da segurança do método.

Descongestionantes nasais podem causar taquicardia, elevação da pressão arterial e a dependência chamada de rinite medicamentosa.

Os analgésicos por sua vez, podem causar hemorragias gastrointestinais e úlceras pelo uso contínuo no caso do ácido acetilsalicílico, queda da pressão arterial e diminuição dos glóbulos brancos no uso da dipirona, já o paracetamol pode causar intoxicações em doses elevadas e necrose do fígado. Sem contar que os analgésicos citados acima ainda podem causar reações alérgicas fatais em determinadas pessoas.

Os corticóides, que também são utilizados, embora com menos freqüência, aliviam um grande número de doenças, porém o uso incorreto altera nosso metabolismo.

Os medicamentos chamados fitoterápicos, ou seja, naturais (ervas e chás) também trazem perigo à saúde. Não são raros os casos dessas substâncias causarem danos aos fígados e rins, podendo até acarretar hepatite medicamentosa (fígado adoece pelo excesso de medicamento). Em pessoas que já tem a saúde comprometida, os riscos podem ser ainda maiores. Por exemplo, se uma pessoa tem gordura no fígado, tem problemas renais, hepáticos,se ela é hipertensa, diabética ou está com baixa imunidade à toxicidade de chás e ervas podem ser ainda maiores.

Os laxantes naturais são exemplos de fitoterápicos muito utilizados em automedicação e quando utilizados por longos períodos podem levar a uma inflamação no intestino e predispor ao câncer.

Ao usar uma erva ou chá, a pessoa está usando todos os elementos contidos ali, não só o princípio ativo. O perigo dessas substâncias para o fígado, pode se tornar grave, uma vez que é silencioso. Quando os sintomas aparecem, a doença já está em fase avançada.

A babosa também é outro exemplo de fitoterápico bastante utilizado na automedicação. Ela possui propriedades laxativas, podendo provocar diarréias (levando à desidratação) e inflamações intestinais. Possui também toxicidade hepática e renal.

Existem estudos onde os fitoterápicos podem ser utilizados como tratamento concomitantemente ao tratamento quimioterápico, obtendo-se efeitos benéficos ao paciente. Estes efeitos incluem ação antioxidante, antiinflamatória, imunoestimulante, hepatoprotetora entre outras. Mas devemos ressaltar o uso deve ser orientado e prescrito pelo seu médico.

Outro risco importante da automedicação a ser considerado é a interação medicamentosa. Que tem como definição, segundo a ANVISA, sendo a resposta farmacológica ou clínica à administração de uma combinação de medicamentos, diferentes dos efeitos de dois agentes administrados individualmente, ou seja, quando o efeito de um medicamento é alterado pela combinação de outro medicamento, alimento, chás, ervas, bebidas ou álcool, podendo anular os efeitos desse medicamento ou aumentar a toxicidade dos mesmos no organismo.

O grande perigo, ao se automedicar, é que esses efeitos não estão previstos pelo médico, pois normalmente, o paciente não comunica ao mesmo aquilo que está tomando por conta própria.

Em pacientes que estão passando por tratamento oncológico, a automedicação pode inclusive, atrapalhar a quimioterapia; pode acarretar na diminuição da efetividade terapêutica, aumento dos efeitos adversos podendo ocasionar maiores índices de hospitalização.

Neste caso, se torna mais imprescindível ainda, que se evite a automedicação e que todos os medicamentos que estão sendo utilizados sejam rigorosamente informados ao médico.

A cada medicamento novo, que um médico de outra especialidade receitar, o médico assistente deverá ser informado.

As orientações de uso devem sempre ser seguidas.

Aliado à equipe multidisciplinar, está o farmacêutico clínico que é responsável por promover o uso racional de medicamentos, através da educação em saúde, dispensação segura de medicamentos, otimização da farmacoterapia, garantindo segurança e efetividade no tratamento farmacológico, além de ser o profissional responsável pela identificação e resolução de Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM). Dessa forma, atuando junto à equipe multidisciplinar, o farmacêutico promove saúde e qualidade de vida para os pacientes.

Apesar da comodidade que é automedicar-se, é preciso educar-se e procurar sempre ajuda profissional, pois será sempre melhor do que consumir medicamentos de forma indiscriminada. Seu auxílio no esclarecimento deste assunto a familiares e amigos, bem como o empenho de farmácias, profissionais de saúde e órgãos governamentais podem diminuir nossas estatísticas alarmantes e melhorar a saúde de nossa população. É de nossa responsabilidade, a condução da nossa saúde e a saúde do próximo. Cabe a nós, não indicar medicamentos, fitoterápicos ou chás, pois ao invés de estarmos ajudando, estaremos prejudicando a saúde de outra pessoa.

“Para tudo tem remédio”, diz o ditado popular. Mas é fundamental usar o medicamento certo, na hora certa, na quantidade certa, pelo tempo certo e prescrito por um profissional habilitado.”