Nós praticamente nascemos sabendo que a vida é um ciclo, e que nossa permanência aqui não é eterna. Mas é incrível como nossa psique nasce com uma proteção natural, que nos faz simplesmente não lembrar deste detalhe…. Nós sabemos que todos vamos morrer, mas desenvolvemos uma “ilusão” de que este assunto não é conosco.
Embora seja um caminho natural da vida, e todos nós estejamos cientes de que um dia ela virá, a morte ainda é vista como um assunto que causa mal estar, é um assunto tabu, porque especialmente nós da cultura ocidental, temos este assunto muito mal resolvido.
Todos nós perderemos entes queridos, ao longo de nossas vidas, por diferentes motivos. Tentamos de todas as formas afastar de nós e de nossos entes queridos este fato, através do desenvolvimento da Medicina, nas mais diferentes áreas. Temos tido muito sucesso, porque as doenças estão cada vez mais curáveis, inclusive aquelas que sempre foram estigmatizadas “como mortais”.
Quando trabalhamos com uma área da Medicina como a Mastologia, acabamos ficando próximos de doenças como o câncer e, infelizmente, sabemos que em muitos casos, ele envolve a proximidade com a possibilidade da morte. No caso, nós, como médicos, precisamos ter um olhar holístico e não apenas científico sobre cada um dos nossos pacientes, e saber ver além do tratamento medicamentoso – o acolhimento, a empatia com a dor do outro, é um componente muito importante no tratamento que fazemos.
Como profissionais da saúde, sabemos que vamos acompanhar algumas perdas de outras pessoas, que normalmente são também nossas perdas como médicos, porque são pacientes que travaram uma luta com a nossa assistência, que não logravam êxito em vencê-la por inúmeras razões. Quando acontece na vida dos outros, mesmo como médicos, somos muito impactados.
Mas a perda da convivência, a ruptura dos projetos e sonhos, diz respeito a um núcleo familiar que não é o nosso. Mesmo assim, nos sentimos arrebatados, porque a perda do nosso paciente não deixa de ser uma derrota, mesmo que racionalmente estejamos cientes de que fizemos tudo o que poderia ter sido feito.
Ser humano é isto – viver, sentir e também sofrer. Cada um sabe da sua forma de enfrentar as perdas. E o que podemos fazer como amigos, familiares, médicos, cuidadores, é colocar em prática nossa empatia, entendendo a dor da perda do outro, e tentando contribuir para amenizar a sua tristeza. Não querendo que ela esqueça o ente querido. Talvez uma boa forma de ajudar seja incentivando-a a relembrar os bons momentos vividos, a valorizar as lembranças deixadas pela pessoa que se foi, por ter cumprido sua missão aqui na terra. E deixar que cada pessoa passe pelo seu sofrimento da forma que ela julgar adequada, mas sempre nos fazendo presentes em apoio, com nossa presença e com atitudes que respeitem o espaço e a dor do outro.
Há pouco tempo, vivi uma condição triste e pessoal – estou tendo que lidar com a perda de uma pessoa, que com certeza foi uma das mais importantes de toda minha vida. Perdi minha “grande” tia em 2020. Tem sido uma caminhada dura, porque tenho que conviver com o fato de que tudo o que fizemos por ela não foi suficiente para mantê-la por mais tempo entre nós. E neste processo, estou sentindo toda a dor de perder um ente querido, que amava com toda a minha energia. Uma pessoa que contribuiu para muitas das minhas conquistas, desde muito menina, e , que tanto vibrou em ver meu crescimento profissional. Entendo a dor de quem perde um dos seus.
Ela faz falta em minha alma.