Milhões de mulheres no mundo hoje usam anticoncepcional oral (ACO) como método contraceptivo de escolha.
Os dados disponíveis através de estudos clínicos não confirmam a existência de aumento de risco de câncer de mama com o uso de ACO, apenas sugerem um pequeno aumento no risco relativo. Sabe-se também que o uso de ACO está associado a um aumento no risco relativo de doenças cardiovasculares e de câncer cervical. E vários estudos epidemiológicos têm demonstrado uma substancial proteção contra o câncer de endométrio e ovário com o uso de ACO, e essa proteção permanece por 15 ou mais anos após a sua suspensão.
Existem no mercado uma grande variedade de contraceptivos com composições e doses diferentes. De uma forma geral, possuem duas substâncias associadas: uma da classe das progesteronas e outros da dos estrogênios. O tipo de ACO indicado a cada paciente varia, optando-se geralmente por aquele de menor dosagem e que ofereça um adequado controle do ciclo e menores efeitos colaterais.
Em razão de alguns tumores de mama serem sensíveis ao estímulo hormonal, a associação do uso de ACO ao risco de câncer de mama foi questionada. Uma suposição é que estes hormônios presentes nas pílulas anticoncepcionais poderiam levar ao desenvolvimento ou mesmo estimular um crescimento mais rápido das células cancerígenas na mama. Igualmente, as evidências de aumento do risco de câncer de mama em algumas mulheres com o tratamento de reposição hormonal reforçavam a idéia de que os ACO poderiam levar a um aumento de risco. Em razão do grande número de usuárias, um pequeno aumento do risco poderia representar um grande incremento de casos de câncer de mama.
Um estudo que uniu os resultados de 54 pesquisas, anteriores a 1996, evidenciou um pequeno aumento no risco de câncer de mama entre as usuárias de ACO (risco relativo de 1.0) quando comparadas àquelas que nunca o haviam usado.
Em razão disso, foi desenvolvido uma pesquisa de maior qualidade para esclarecer a dúvida que havia então surgido. Assim foi realizado um estudo comparando pacientes usuárias ou com história de uso de ACO no passado com pacientes não usuárias, totalizando 9257 mulheres na faixa de idade entre 35 e 74 anos.
Esse estudo muito bem conduzido não mostrou aumento de risco entre as pacientes em uso atual de ACO, ou entre aquelas que fizeram uso de ACO há mais de 10 anos. O uso de ACO por mulheres com presença de fatores de risco como história familiar ou idade tardia da primeira gestação também não se associou com aumento de risco de câncer de mama. Uma análise para determinar o risco entre mulheres brancas e negras também não confirmou existir diferença entre os dois grupos. A duração do uso de ACO não teve relação com a ocorrência de tumor de mama, assim como, o inicio de utilização em idade mais jovem. Especulou-se se o tipo de progesterona existente na fórmula do ACO poderia influenciar com aumento de risco. A análise comparando diferentes formulações não mostrou diferença.
Outros trabalhos tentando estabelecer a influência dos ACO entre grupos de mulheres com definido maior risco de câncer de mama – como por exemplo entre aquelas com mutação genética para os gens BRCA 1 e 2 – também confirmaram não existir aumento de risco.
As evidências mostradas permitem, portanto, tranquilizar as pacientes quanto a sua escolha de contracepção.
Fonte: O que as mulheres querem saber sobre câncer de mama. As 100 perguntas mais freqüentes. Boff RA e Wisintainer F. Editora Mesa Redonda Ltda, Caxias do Sul, RS, 2005, p 48-49.