O anúncio feito pela atriz Angelina Jolie em 14 de maio, no qual ela revelou ter se submetido a uma dupla mastectomia, foi um dos assuntos mais comentados da semana nas redes sociais. O tema também foi amplamente abordado em diversos jornais on-line, impressos, de TV e rádio.
Gabriela Santos, mastologista cooperada da Unimed Vale dos Sinos, vê como positiva essa grande repercussão.
“Quando uma mulher conhecida mundialmente faz uma revelação dessas gera uma grande polêmica. Vejo de maneira positiva, porque sempre serve como alerta e incentiva a busca por mais informações. Acho que chama a atenção para alertar sobre a doença e se falar sobre prevenção”, explica.
Em comunicado publicado pelo The New York Times, a atriz norte-americana explicou que decidiu fazer o procedimento de retirada dos dois seios para prevenir o câncer de mama. A mãe dela morreu aos 59 anos devido à doença e, de acordo com Jolie, seus médicos estimaram após exames que havia 87% de chances de ela desenvolver câncer de mama e 50% de risco de câncer de ovário, por conta de uma mutação genética.
Confira na íntegra entrevista com a Dra. Gabriela, que tem um site com informações sobre câncer de mama e bem-estar:
Em sua opinião, a decisão de Angelina Jolie foi positiva?
Considerando a alteração genética que ela apresenta, concordo com a decisão dela, afinal de contas, é a medida de maior impacto na prevenção nestes casos. É uma decisão que deve ser tomada pela paciente em conjunto com o mastologista, com o apoio psicológico e familiar.
A atitude da atriz pode provocar mal-entendidos na população como um todo?
Sim, pode gerar mal-entendidos. Não é um procedimento indicado para todas as mulheres e não é isento de riscos. É apenas indicado para pacientes com mutação genética. E envolve riscos, como qualquer outro procedimento cirúrgico, como, por exemplo, hemorragias e infecção, bem como a rejeição à prótese. É importante citar o alto índice de insatisfação das pacientes, que chega a cerca de 30% em estudos com mulheres norte-americanas. Além disso, outras pesquisas relataram problemas psicológicos importantes, tais como queda da autoestima e insatisfação na vida sexual.
Qual é a melhor forma de comunicar esse tipo de decisão de grande repercussão mundial para que não ocorram enganos entre a população?
Na verdade é um procedimento já feito há muitos anos, com resultados estéticos cada vez melhores. Mas claro, que, quando uma mulher conhecida mundialmente faz uma revelação dessas, gera uma grande polêmica. Vejo de maneira positiva, porque sempre serve como alerta e incentiva a busca por mais informações. Acho que chama a atenção para alertar sobre a doença e se falar sobre prevenção.
Alexandre Padilha, o Ministro da Saúde, pediu cautela com relação ao assunto. A senhora concorda com a atitude do governo brasileiro? Por quê?
Ter cautela em relação ao assunto quer dizer que o procedimento não é indicado para todas as mulheres, assim como o próprio teste genético, considerando que essa alteração genética representa apenas de 5 a 10% dos casos de câncer de mama, além do alto custo do exame. Outro aspecto importante a se falar é que precisamos saber o que fazer com o resultado do teste. A paciente tem de estar preparada para alguma medida de prevenção neste caso, do contrário só geraria um estresse absurdo.
Existe realmente a necessidade de ela retirar os ovários? Até que ponto os seios e os ovários têm relação quando o tema é possibilidade de se desenvolver câncer?
Essa alteração genética apresenta risco para câncer de mama e ovários. Retirando as mamas, a paciente diminui o risco de câncer em 90%. Se ela retirar também os ovários, o risco de câncer na mama diminui 95%, além de diminuir o risco nos ovários para 90%.
Que mulheres podem ou devem tomar atitude semelhante a da atriz? Por quê?
O procedimento feito pela atriz é indicado quando existe mutação genética comprovada. O teste genético é apenas recomendado para mulheres que, por exemplo, tenham dois ou mais familiares com câncer de mama antes dos 50 anos e/ou familiar homem com câncer de mama.
A partir de que idade uma mulher pode se sentir segura para tomar esse tipo de decisão?
O procedimento parece ter mais benefício em mulheres com menos de 50 anos, até porque essa alteração é responsável por tumores em mulheres mais jovens. Mas a decisão vai depender de uma série de fatores, como prole completa e estabilidade no casamento. As mulheres submetidas a tal procedimento não poderão amamentar e terão perda de sensibilidade, interferindo na satisfação da relação sexual. Pacientes que se submetem à retirada dos ovários entrarão em menopausa, podendo ter todos os sintomas de uma menopausa natural. Sendo assim, estamos falando que a melhor idade seria após ter a prole completa (ideal em torno dos 40 anos ou mesmo antes), e que a mulher entrará em menopausa, ou seja, precisamos avisar que sua qualidade de vida será afetada em vários sentidos. Mas estou certa de que, para algumas pacientes, o risco e o medo justificam todas as consequências de tal decisão.
Quais seriam outras alternativas menos radicais e tão efetivas para o caso de possibilidade de câncer de mama?
Outra alternativa é a chamada quimioprevenção, com uso de tamoxifeno, o que pode reduzir o risco em até 50%. Mas o importante é chamar atenção e alertar para as medidas de detecção precoce, visto que, hoje em dia, podemos chegar à taxa de até 95% de cura se os tumores forem diagnosticados em estágio inicial.
Fonte: Portal Nacional da Unimed