O câncer de mama é a segunda neoplasia mais comum em mulheres com menos de 35 anos, acometendo muitas mulheres que nem se quer tiveram filhos ainda.

Nas últimas décadas, tem-se observado o adiamento da gestação por mulheres das grandes cidades, talvez por reflexo das mudanças socioculturais. Muitas mulheres, entre 35 e 40 anos, que estão se preparando para gestar, descobrem um câncer de mama em exames de rotina. Então, além do medo desse diagnóstico, é como se o sonho da maternidade também fosse destruído. E, o  que se percebe é que menos de 10% destas mulheres ficam grávidas após o tratamento, no decorrer de suas vidas, talvez por falta de informação e aconselhamento. Portanto, nesse momento, também é importante conversar sobre a vontade e a possibilidade de uma futura gravidez, e sobre as medidas e decisões que devem ser tomadas. Os sonhos e projetos devem ser valorizados.

Claro que ainda existem muitas dúvidas quanto à segurança e o melhor tempo para se esperar. Tanto médicos como pacientes se preocupam com o fato de a gravidez aumentar as chances de recorrência de câncer de mama, particularmente para mulheres com doença com receptores hormonais positivos. Nesses casos, o câncer de mama é alimentado por estrogênio, e então os níveis hormonais durante a gravidez poderiam estimular as células cancerosas. Outra preocupação seria a necessidade de interromper a terapia hormonal adjuvante (pós-cirurgia) antes de tentar uma gravidez. Essa terapia hormonal ajuda a prevenir a recorrência do câncer e recomenda-se que as mulheres o recebam por pelo menos 5 anos e, em alguns casos, até 10 anos.

Recentemente, dados de um estudo apresentado no Congresso Americano de Oncologia, em Chicago, trouxe uma notícia muito encorajadora para mulheres que tiveram câncer de mama, e tinham receio de aumentar a família, ou poder engravidar pela primeira vez.

O estudo envolveu 1200 mulheres sobreviventes a um câncer de mama e que estão passando por uma gestação. No estudo, as mulheres que ficaram grávidas depois de um diagnóstico precoce de câncer, não tiveram maior chance de câncer recorrente e morte quando comparadas a aquelas que não estavam grávidas. Após um acompanhamento médio de cerca de 10 anos do diagnóstico de câncer, não houve diferença na sobrevivência livre de doença entre as mulheres que ficaram grávidas e as que não o fizeram, independentemente do status hormonal.

No entanto, as decisões devem ser individualizadas. Para decidir quanto tempo aguardar antes de engravidar, pacientes e médicos devem considerar o risco pessoal de cada mulher para recorrência, particularmente para as mulheres que precisam de terapia hormonal adjuvante.

Dra. Gabriela Santos

Fonte: Jornal NH – Caderno de Saúde – Segunda-feira, 10 de julho de 2017.