O câncer de mama associado à gestação não é comum, representando menos de 0.5% dos casos de câncer de mama. O câncer de mama representa 0,2 a 3,8% de todos os cânceres que ocorrem na gravidez.

Como conceito, definimos câncer de mama associado à gestação aquele que acontece durante a gestação propriamente dita até o primeiro ano pós-parto.

O que percebemos é que as mulheres estão retardando a gravidez para as 3ª e 4a década de suas vidas. Consequentemente, doenças que comumente acometem mulheres em idade adulta associam-se às gestações mais tardias. Paralelamente, o câncer de mama está sendo diagnosticado em mulheres em idade mais jovem, não estando claro se isso é devido ao diagnóstico mais precoce associado ao avanço da tecnologia médica, conscientização feminina e programas de rastreamento ou se a história natural da doença está se modificando pelas alterações ambientais e pela exposição a agentes potencialmente cancerígenos.

As alterações morfológicas ocorridas na gravidez, como o aumento de volume e da densidade mamária, causam dificuldades no diagnóstico. Aproximadamente 80% das pacientes grávidas tem sido diagnosticadas apresentando doença avançada, com comprometimento linfonodal.

É importantíssimo o papel do obstetra desde o início do pré-natal. As mamas devem ser examinadas de rotina.

Em casos de suspeita de doença serão feitos todos os exames necessários para esclarecimentos, tais como mamografia, ecografia mamária e biópsia percutânea (biópsia por agulha guiada por ecografia ou mamografia).

O tratamento do câncer de mama associado à gestação dependerá tanto do período gestacional como da estádio da doença. Os efeitos da anestesia geral e da cirurgia parecem não aumentar o risco fetal, sendo rara a ocorrência de aborto. A escolha da técnica cirúrgica segue as mesmas indicações das pacientes não grávidas.

Em casos de tumores pequenos e gestações quase a termo, pode ser realizada cirurgia conservadora seguida de radioterapia pós-parto, visto que essa está contraindicada durante a gestação pelos riscos de malformação fetal e aborto.

Quando a doença é diagnosticada muito no início da gravidez ou é avançada, a cirurgia de escolha é a retirada da mama, porque mesmo se o tumor é pequeno não poderemos fazer radioterapia complementar indicada nas cirurgias conservadoras durante a gestação.

Para avaliação axilar, na gestação não podemos usar o corante azul patente. Portanto nos casos em que há indicação de biópsia do linfonodo sentinela, teremos que usar o técnico (um radiofármaco), que parece bastante seguro na gestação.

A quimioterapia está contraindicada no primeiro trimestre, pois causa sérios efeitos teratogênicos neste período. Gestantes recebendo quimioterapia são consideradas de alto risco, pois apresentam com maior frequência trabalho de parto prematuro e retardo de crescimento intrauterino.

A associação entre câncer de mama e gestação deve ser lembrada pelos profissionais da área de saúde, pois o diagnóstico na fase inicial traz resultados terapêuticos mais satisfatórios.

O aborto não deve ser considerado como medida integrante da terapêutica contra o câncer de mama associado à gravidez, pois sabe-se que não há aumento da sobrevida nas pacientes submetidas ao aborto. O aborto terapêutico deve ser recomendado apenas naquelas pacientes em que o problema reside nos danos fetais que serão induzidos pelo tratamento adjuvante, como radioterapia e quimioterapia. Mas a decisão da prática do aborto nestas pacientes deve sempre ser multidisciplinar, com todo o apoio social e psicológico para a paciente e sua família.

Fonte: Manual de Diagnóstico e Terapêutica em Mastologia. Boff RA, Wisintainer F, Amorim G, Ruaro S, Santos GR, Miele L, Ribas FE, Schuh F, Machado LS. Editora Mesa Redonda, Caxias do Sul, 2007.